No mundo, é comum observarmos pessoas que não vêem com bons olhos o fato de serem utilizadas pelos outros, e até odeiam ou guardam rancor por isso. Mas, na realidade, será que isso é algo lamentável ou prejudicial? De maneira alguma! Ao contrário, se de fato houvesse alguém que não fosse utilizado para nada, este sim seria realmente uma pessoa sem valor algum no mundo, o que seria muito triste. Por exemplo, a caneta boa de se usar é sempre utilizada, mas a caneta ruim de se usar, ou é jogada fora ou é deixada sempre guardada no fundo de uma gaveta, e por certo acabará sendo esquecida. Dependendo do produto, pode enferrujar-se e perder a sua utilidade, e há os que acabam apodrecendo.
Então, o que é melhor; procurar ser utilizado até se desgastar completamente, desempenhando plenamente o seu papel, ou ser abandonado e acabar apodrecendo? Não é preciso nem dizer que a primeira alternativa é melhor. Os utensílios e ferramentas existem para serem usados; portanto, a sua existência tem valor ao serem usados até o fim. Se tivéssemos que usá-los a contragosto, seriam um estorvo e até seria melhor que não existissem.
Se já é assim com as coisas, o que dizer com relação às pessoas? Aquele que vive muito ocupado, a ponto de dizer que mesmo tendo mais um corpo ainda não daria conta dos serviços, devido ao seu espírito prestativo e aos muitos encargos de assistência social que possui, certamente sentirá o verdadeiro valor e prazer da vida. Além disso, a pessoa a quem vale a pena pedir ajuda; a pessoa que tem um espírito humilde e sincero; a pessoa que se põe no lugar dos outros antes de fazer as coisas, naturalmente se tornará mais e mais prestativa e digna de confiança. Agora, a pessoa que impõe a sua vontade e está sempre cheio de argumentos e pretextos, mesmo que tenha inteligência e capacidade, todos evitarão de falar com ela, e não terá quem se aproxime dela. É tal qual o utensílio ou ferramenta que não tem utilidade: será esquecida e abandonada.
Podemos dizer que a mulher é realmente feliz ao servir plenamente ao marido, dedicando-lhe todo tempo, de corpo e alma. É devotando ao outro de todo o coração que se diz “amor”, pois a vida conjugal dura quando marido e mulher não relutarem em usar o corpo e o espírito para contentarem-se mutuamente. A alegria se aprofundará cada vez mais à proporção que os dois dispuserem de tempo para dialogar e cuidar da vida, a começar da alimentação. Tanto mais vezes e quanto mais profundamente a pessoa for utilizada, mais valor terá o seu viver. Às vezes, a mulher terá que saber entender e aceitar os pedidos difíceis e os desejos quase impossíveis do marido, o que lhe vai creditar mais confiança e acumular mais sentimento de gratidão, tornando-se uma esposa amada de coração pelo marido. Só fazendo coisas comuns e razoáveis não é o suficiente para que nasça o verdadeiro amor entre o marido e a mulher. É renunciando completamente a si mesmo que alguém receberá de volta a alegria de desfrutar a máxima felicidade.
De outro lado, o homem deve empenhar a própria vida a serviço da sociedade. Tanto o comércio, a indústria, a agricultura, a pesca, e todas as demais atividades não terão continuidade se não exercerem funções de que a sociedade necessita. E trabalhar é prestar serviço à sociedade como retribuição à gratidão por esses favores recebidos. O pensamento de trabalhar apenas para sustentar a vida e para buscar lucros não condiz com o verdadeiro sentido do trabalho. Portanto, é preciso contribuir mais vezes e o máximo possível em prol da sociedade, bem como em contentar os outros. É servindo bem os fregueses que o comerciante terá sucesso em seus negócios. E quem trabalha em uma empresa, precisa tornar-se uma pessoa útil e indispensável dentro dela, recebendo a confiança de exercer mais funções e maior responsabilidade. Além disso, o homem também deve servir plenamente à mulher, dedicando-lhe todo o tempo, o corpo e a alma, conseguindo com isso levar uma vida conjugal plena e cheia de alegria.
Desde que todos vivem relacionados socialmente, a pessoa não pode determinar por si mesma o seu próprio valor. Nada adianta ela achar que é importante se os outros não reconhecerem isso. Essa avaliação será determinada de acordo com o grau de alegria, satisfação e sentimento de gratidão que ela proporciona aos outros. Portanto, ao invés de receber favores dos outros, é prestando-lhes favores que a pessoa será considerada realmente nobre e inestimável.
A pessoa que se dedica em prol da sociedade, sacrificando a própria vida, certamente será lembrada com saudade até pelas gerações posteriores. Assim, vamos dedicar o máximo esforço para o bem do próximo, sem relutar em gastar energias. Se por acaso houver quem se aproveite dos outros para levar vantagem, isso não é motivo para odiá-lo, pois um dia essa pessoa cairá por si mesma num beco sem saída. Temos que sentir pena dela. Assim, quem é roubado é mais afortunado do que quem rouba. Quem é enganado se recupera e se levanta de novo, ao passo que quem engana irá atolar-se na lama. Além do mais, com o passar do tempo, tudo será descoberto e o seu erro comprovado, tendo que pagar caro por isso.
A verdadeira fortuna que realmente pertence ao homem é somente o seu mérito e a virtude que acumulou ao longo da vida, e isso é resultado da alegria de ter-se dedicado e de ter sido utilizado ao máximo em prol dos outros e da sociedade. Esse mérito ou virtude é o tesouro que não se queima com o fogo, não é carregado pela água e nem roubado por ninguém. A menos que a própria pessoa o destrua, será seu por toda a eternidade.
texto extraído do livro " A Força do Espírito", de Sashiti Ono