水曜日, 12月 02, 2009

A Alegria de Ser Utilizado

      No mundo, é comum observarmos pessoas que não vêem com bons olhos o fato de serem utilizadas pelos outros, e até odeiam ou guardam rancor por isso. Mas, na realidade, será que isso é algo lamentável ou prejudi­cial? De maneira alguma! Ao contrário, se de fato houvesse alguém que não fosse utilizado para nada, este sim seria realmente uma pessoa sem valor algum no mundo, o que seria muito triste. Por exemplo, a caneta boa de se usar é sempre utilizada, mas a caneta ruim de se usar, ou é jogada fora ou é deixada sempre guardada no fundo de uma gaveta, e por certo acabará sendo esquecida. Dependendo do produto, pode enferrujar-se e perder a sua utilidade, e há os que acabam apodrecen­do.
Então, o que é melhor; procurar ser utilizado até se desgastar completamente, desempenhando plenamente o seu papel, ou ser abandonado e acabar apodrecendo? Não é preciso nem dizer que a primeira alternativa é melhor. Os utensílios e ferramentas existem para serem usados; portanto, a sua existência tem valor ao serem usados até o fim. Se tivéssemos que usá-los a contra­gosto, seriam um estorvo e até seria melhor que não existissem.

Se já é assim com as coisas, o que dizer com relação às pessoas? Aquele que vive muito ocupado, a ponto de dizer que mesmo tendo mais um corpo ainda não daria conta dos serviços, devido ao seu espírito prestativo e aos muitos encargos de assistência social que possui, certamente sentirá o verdadeiro valor e prazer da vida. Além disso, a pessoa a quem vale a pena pedir ajuda; a pessoa que tem um espírito humilde e sincero; a pessoa que se põe no lugar dos outros antes de fazer as coisas, naturalmente se tornará mais e mais prestativa e digna de confiança. Agora, a pessoa que impõe a sua vontade e está sempre cheio de argumentos e pretextos, mesmo que tenha inteligência e capacidade, todos evitarão de falar com ela, e não terá quem se aproxime dela. É tal qual o utensílio ou ferramenta que não tem utilidade: será esquecida e abandonada.

Podemos dizer que a mulher é realmente feliz ao servir plenamente ao marido, dedicando-lhe todo tempo, de corpo e alma. É devotando ao outro de todo o coração que se diz “amor”, pois a vida conjugal dura quando marido e mulher não relutarem em usar o corpo e o espírito para contentarem-se mutuamente. A alegria se aprofundará cada vez mais à proporção que os dois dispuserem de tempo para dialogar e cuidar da vida, a começar da alimentação. Tanto mais vezes e quanto mais profundamente a pessoa for utilizada, mais valor terá o seu viver. Às vezes, a mulher terá que saber entender e aceitar os pedidos difíceis e os desejos quase impossíveis do marido, o que lhe vai creditar mais confiança e acumular mais sentimento de gratidão, tornando-se uma esposa amada de coração pelo marido. Só fazendo coisas comuns e razoáveis não é o suficiente para que nasça o verdadeiro amor entre o marido e a mulher. É renuncian­do completamente a si mesmo que alguém receberá de volta a alegria de desfrutar a máxima felicidade.

De outro lado, o homem deve empenhar a própria vida a serviço da sociedade. Tanto o comércio, a indús­tria, a agricultura, a pesca, e todas as demais atividades não terão continuidade se não exercerem funções de que a sociedade necessita. E trabalhar é prestar serviço à sociedade como retribuição à gratidão por esses favores recebidos. O pensamento de trabalhar apenas para sustentar a vida e para buscar lucros não condiz com o verdadeiro sentido do trabalho. Portanto, é preciso contribuir mais vezes e o máximo possível em prol da sociedade, bem como em contentar os outros. É servindo bem os fregueses que o comerciante terá sucesso em seus negócios. E quem trabalha em uma empresa, preci­sa tornar-se uma pessoa útil e indispensável dentro dela, recebendo a confiança de exercer mais funções e maior responsabilidade. Além disso, o homem também deve servir plenamente à mulher, dedicando-lhe todo o tempo, o corpo e a alma, conseguindo com isso levar uma vida conjugal plena e cheia de alegria.

Desde que todos vivem relacionados socialmente, a pessoa não pode determinar por si mesma o seu próprio valor. Nada adianta ela achar que é importante se os outros não reconhecerem isso. Essa avaliação será determinada de acordo com o grau de alegria, satisfação e sentimento de gratidão que ela proporciona aos outros. Portanto, ao invés de receber favores dos outros, é prestando-lhes favores que a pessoa será considerada realmente nobre e inestimável.

A pessoa que se dedica em prol da sociedade, sacrificando a própria vida, certamente será lembrada com saudade até pelas gerações posteriores. Assim, vamos dedicar o máximo esforço para o bem do próximo, sem relutar em gastar energias. Se por acaso houver quem se aproveite dos outros para levar vantagem, isso não é motivo para odiá-lo, pois um dia essa pessoa cairá por si mesma num beco sem saída. Temos que sentir pena dela. Assim, quem é roubado é mais afortunado do que quem rouba. Quem é enganado se recupera e se levanta de novo, ao passo que quem engana irá atolar-se na lama. Além do mais, com o passar do tempo, tudo será descoberto e o seu erro comprovado, tendo que pagar caro por isso.

A verdadeira fortuna que realmente pertence ao homem é somente o seu mérito e a virtude que acumulou ao longo da vida, e isso é resultado da alegria de ter-se dedicado e de ter sido utilizado ao máximo em prol dos outros e da sociedade. Esse mérito ou virtude é o tesouro que não se queima com o fogo, não é carregado pela água e nem roubado por ninguém. A menos que a própria pessoa o destrua, será seu por toda a eternidade.
texto extraído do livro " A Força do Espírito", de Sashiti Ono